sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Os Não Infelizes

Se houvesse um livro de Bernardim Ribeiro que começasse "Menina e moça voltei para casa dos meus pais e desde esse dia nunca mais chorei uma só lágrima", nunca teria arranjado editor. Portugal pode não ser um país triste, mas é decididamente um país infeliz. Em mais nenhuma língua ser feliz, que deveria ser uma coisa natural, significa também ter sorte, ser bem sucedido.
Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os portugueses adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais interessantes. Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem uma soar repelente, rimador de javardo) vêm-se obrigados a fingir a dor que deveras sentem, só para poderem brincar "com os outros meninos.

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